Zanine Caldas


Zanine Caldas
Desde a infância, José Zanine Caldas se relacionava intimamente com a madeira. Aos 13 anos, já moldava presépios para vizinhos; aos 18, trabalhava como desenhista em construtoras em São Paulo. Pouco depois, abriu no Rio de Janeiro seu próprio ateliê de maquetes — de onde saíram protótipos para nomes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Oswaldo Bratke, consolidando-o como referência na representação do modernismo brasileiro.

Autodidata, Zanine nunca frequentou uma escola de arquitetura, mas dominava técnicas e materiais com uma profundidade rara. Foi reconhecido como o “Mestre da Madeira” e, mais tarde, recebeu o título de arquiteto honoris causa — tendo Lúcio Costa como um de seus maiores defensores. Seu percurso esteve sempre ancorado no fazer: desenhar, construir, experimentar.
“Desde pequeno fui fascinado por quem fazia. O alfaiate que fazia roupas, a cozinheira que fazia comida, o carpinteiro que fazia mesas e cadeiras, o mestre de obras que fazia casas... e olhando o fazer aprendi a fazer também.”
— José Zanine Caldas

Na década de 1940, lançou os Móveis Z, produzidos em compensado industrial. De linhas simples e práticas, eram pensados para a classe média urbana, que buscava um mobiliário moderno e acessível. O projeto teve ampla circulação e consolidou a ideia de que o design podia — e devia — fazer parte do cotidiano brasileiro.
Entre as décadas de 1960 e 1980, Zanine passou a criar móveis a partir de sobras de madeira e restos de abates, muitas vezes irregulares. Essas peças ficaram conhecidas como móveis-denúncia, pois expunham, de forma direta, o impacto do desmatamento sobre as florestas brasileiras. O gesto crítico estava na própria escolha da matéria-prima — o reaproveitamento como linguagem e resistência.

A partir dos anos 1960, voltou-se também à arquitetura. Suas casas eram erguidas com toras maciças de madeira nativa, abandonando o compensado industrial. As construções revelavam uma visão ecológica e artesanal, em que o material ditava a forma e se integrava ao entorno natural — como na emblemática Casa Cuca, no Rio de Janeiro.
Nos anos 1970, desenvolveu uma produção de caráter escultórico, transformando troncos descartados em móveis monumentais. Peças como a poltrona Canoa sintetizam esse período: obras únicas, talhadas à mão, que guardam as marcas do tempo e do processo de feitura. Essa fase aproximou definitivamente sua produção da arte.
Em 1982, Zanine publicou o Manifesto da Madeira, no qual defendia o aproveitamento integral da matéria-prima, sem desperdício. Dois anos antes, havia fundado o Centro de Desenvolvimento das Aplicações da Madeira (DAM), no Rio de Janeiro, voltado à pesquisa sobre usos sustentáveis da madeira. Essas iniciativas o consolidaram como uma das vozes pioneiras em defesa da sustentabilidade no design brasileiro.

Zanine Caldas

Desde a infância, José Zanine Caldas se relacionava intimamente com a madeira. Aos 13 anos, já moldava presépios para vizinhos; aos 18, trabalhava como desenhista em construtoras em São Paulo. Pouco depois, abriu no Rio de Janeiro seu próprio ateliê de maquetes — de onde saíram protótipos para nomes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Oswaldo Bratke, consolidando-o como referência na representação do modernismo brasileiro.


Arquiteto, designer, artista, paisagista e professor, José Zanine Caldas construiu uma obra multifacetada, que dialoga com a cultura popular, a modernidade e a consciência ecológica. Seu legado permanece como uma das expressões mais autênticas e influentes do design e da arquitetura no Brasil — um testemunho do poder do fazer, da matéria e da sensibilidade.